O efeito surpreendente do toque.
Antes de pensarmos na necessidade do toque e afago, sem “sexo”, é importante compreendermos um pouco sobre o valor da nossa pele. Phyllis K. Davis, em seu livro “O poder do Toque”, escreveu:
“Pobres dos milhões de seres humanos que dariam tudo para ter o que um gato ou um cachorro de estimação recebem no que se refere ao amor e contatos físicos – ainda que por um dia. É irônico que, em nosso ambiente, os animais desfrutem mais daquilo do que nós, como seres humanos, tanto precisamos. Não que os animais não necessitem de contato físico. A diferença está no fato de que estes, ao contrário de nós, tocam muito mais nas suas crias e uns aos outros. Enquanto, por exemplo , os animais lambem e acariciam seus filhotes quando estes se machucam, os pais dizem simplesmente aos filhos: ‘Não chore, não foi nada’, fazendo-lhes um curativo em seguida.”
Sempre que falamos em tato, estamos falando de pele. Podemos comparar a pele que nos cobre com um envelope gigante. É um órgão que recebe impressões táteis, ou sensoriais, e reage a qualquer contato com sensações específicas. Os receptores da pele reagem ao calor, ao frio, ao toque, à coceira, a cócegas e a varios tipos de dores e vibrações. A pele é o maior órgão de nosso corpo; compreende de 15 a 20% de nosso peso corporal. O corpo humano médio apresenta 1,67 metro quadrado de pele pontilhada por aproximadamente 5 milhões de minúsculos terminais nervosos que atuam como transmissores de sensações.
A pele é o nosso órgão mais importante em seguida vem o cérebro. As áreas relativas ao tato no cérebro cobrem uma área surpreendentemente grande, tanto na região sensorial quanto na motora. Os lábios, a língua, o rosto, o polegar, os dedos e as mãos ocupam uma quantidade desproporcional de espaço cerebral, seguidos de perto pelos pés. Se você roçar a ponta dos dedos nos lábios, passar as mãos pelo nariz e rosto e lamber os lábios com a língua, você estimulará as áreas mais sensíveis de seu corpo. O sentido do tato prevalece muito em nossos dedos e mãos.
É através da nossa pele que nos envolvemos com freqüência com o mundo exterior. O interessante é que a pele constitui-se numa saída simbólica para os problemas emocionais íntimos, para as emoções reprimidas. Há mais de cem anos, acredita-se que a pele é uma voz para os problemas emocionais íntimos. Foram os médicos franceses Brocq e Jacquet que criaram, em 1891, o termo, “neurodermatite” para definir as inflamações de pele resultantes de perturbações emocionais.
O dermatologista Robert Gieshmer descobriu, após estudar 5 mil pacientes, que em muitos casos as emoções são, sem dúvida, a causa de vários tipos de distúrbios. Especificamente, 27% dos quistos e 36% dos resfriados e dos herpes-zosteres foram provocados por problemas emocionais latentes; psoríases, 62%; urticárias, 68%; eczemas, de 56% a 70%; coceiras, 86%; verrugas, 95%; coçaduras graves e subsequente rompimento da pele, 98% ; enquanto 100% das sudoreses tinham causa psicológica.
A pele, numa tentativa de socorrer os problemas psicológicos das pessoas, produz sintomas, a fim de chamar a atenção para esse grito interior de libertação.
É pelo sentido do tato que nossa pele recebe impressões sensoriais e reage a qualquer contato. A sensação do tato ocorre em conseqüência do mínimo contato, ativa os terminais nervosos apropriados, que retransmitem mensagens sensoriais ao longo da coluna vertebral para o cérebro. A experiência mais precoce, mais elementar e, provavelmente, mais dominante do bebê, ao nascer, é a tátil.
O senso de humanidade associa-se ao contato físico no instante de nosso nascimento e continua ao longo da vida.
“Contato físico, ou estimulação tátil, embora receba pouca atenção, comparada aos nossos outros sentidos e modos de expressão, ainda é a nossa forma de comunicação mais básica, e nós, subconscientemente, sabemos disso”.
O contato físico em si não é um acontecimento emocional, mas seus níveis sensoriais provocam alterações neurais, glandulares, musculares e mentais que chamamos de emoções. É importante entender este conceito porque na infância relacionamos emoções e significados, via contato físico. Se experimentamos afeto e envolvimento, por meio do contato físico, este passará a nos significar afeto e envolvimento. Representará também segurança. Sentimos, amamos e odiamos, tocamos e somos tocados por intermédio das células do tato em nossa pele.
“Quanto mais usamos nosso sentido do tato, mais ele se desenvolve. Até os ratinhos, quando tocados e acariciados, crescem, aprendem e vivem mais do que os companheiros desprezados”.
O toque e a expressão da sexualidade, sem o ato sexual.
Infelizmente, a maioria dos homens insiste em pensar no contato físico apenas como um gatilho sexual. Muitos casais vivem um relacionamento, mais parecido com um “arranjo”, onde apesar do apego entre a vagina e o pênis, os conjuges vivem como trilhos numa estrada de ferro: sempre juntos, mas nunca se tocando.
O psiquiatra Marc Holender defende o conceito de que algumas mulheres anseiam muito mais por serem abraçadas do que pelo ato sexual, podendo até trocar o sexo pelo aconchego e conseqüente sensação de segurança. O contato corporal, segundo Holender, “normalmente causa a sensação de ser amado, de estar protegido e confortado, e a necessidade ou odesejo por ele pode ser afetada pela depressão, pela ansiedade e pela raiva. Certamente, é freqüente ocorrer um período de atividade sexual frenética em momentos de necessidade emocional intensa”.
O simples contato entre peles pode ser tranquilizador. As mulheres talvez anseiem mais por tocar e estar com uma outra pessoa do que pelo alívio da tensão sexual. Para muitas delas, um simples abraço proporciona segurança, proteção, conforto e amor. Penso que muitos homens, além do seu problema de ego e de sua tendência a relacionar contato físico com sexo, simplesmente não sabem tocar. Não compreendem as técnicas do tocar e do aconchegar sua esposa. Acredito ser necessário que os homens aprendam o quanto é importante o tocar a mulher sem estar, necessariamente, pensando em praticar o ato sexual. Esse comportamento demonstraria maturidade.
O contato físico não deve ser um serviço, mas simuma troca de emoções íntimas entre duas pessoas que se amam e se valorizam.Trata-se de uma forma de comunicação, não um serviço, nem uma técnica. Só o contato físico pode eliminar a distância entre duas pessoas, neutralizar a solidão da vida dentro da nossa própria pele e estabelecer um vínculo entre duas mentes, dois corações e dois corpos.
No início do século 19, mais da metade das crianças morriam durante o primeiro ano de vida devido ao marasmo, doença cujo nome deriva da palavra grega que significa “definhar”. Há menos de 50 anos, nos Estados Unidos, a mortalidade entre crianças menores de 1 ano abrigadas em orfanatos era de quase 100%. Naquela época, o método corrente para a criação de filhos baseava-se nos conselhos publicados pelo Dr. Holt em 1894, no livro Os Cuidados com as Crianças e Sua Alimentação. Eis algumas das recomendações do médico: eliminar o berço, não pegar o bebê quando chorar, alimentar apenas nas horas certas e evitar “estragá-lo”, manuseando-o apenas quando necessário, para higiene e alimentação.
Quase todo mundo já ouviu falar do método TLC, abreviatura de Tender Loving Care, literalmente “amor, carinho e ternura”. A revolucionária idéia do TLC chegou ao Estados Unidos por intermédio de Fritz Talbot, um médico de Boston que, antes da primeira guerra mundial, estudou os procedimentos utilizados numa clínica infantil na Alemanha. Na clínica havia uma mulher velha, gorda e desajeitada, chamada Anna, que parecia não fazer nada além de carregar bebês para cima e para baixo. O fato é que com isso ela literalmente salvava a vida de muitas crianças.
Mas foi só após a Segunda Guerra Mundial que se realizaram estudos referentes à causa do marasmo, ou morte infantil inexplicada, e se relacionou a doença à falta de contato físico. As taxas de mortalidade infantil caíram de maneira impressionante nas instituições em que o método TLC passou a ser utilizado. Uma criança, para sobreviver e se desenvolver saudavelmente, precisa ser carregada, aconchegada, acariciada e “mimada”, precisamente o tratamento dado pela velha Anna. Este método, de forma alguma trata a criança com tirania. Muito pelo contrario, lhe satisfaz uma necessidade básica dos primeiros anos de vida.