Os cristãos não estão livres para exercer sua sexualidade de qualquer jeito. Eles estão debaixo de normas, que vêm desde o “princípio da criação” (Mc 10.6), portanto, bem antes da lei de Moisés. Embora tenha mostrado misericórdia com os infratores, Jesus não aboliu nem abandonou essas normas. Ao contrário, enquanto a lei enfatizava a concretização do adultério, Jesus pôs-se contra o adultério na sua fase embrionária, quando é praticado apenas na mente (Mt 5.27). Jesus foi a primeira pessoa da história bíblica a usar a expressão “relações sexuais ilícitas” (Mt 5.32; 19.9). Os apóstolos foram fiéis à teologia sexual do “princípio da criação”, de Moisés, dos profetas e de Jesus.
No primeiro concílio eclesiástico da história da igreja, realizado em Jerusalém, logo nos primeiros anos, a questão sexual foi abordada com firmeza. Após decisão unânime, os cristãos foram exortados a se absterem, entre outras coisas, das tais relações sexuais ilícitas (At 15.20, 29; 21.25). A palavra grega para “relações sexuais ilícitas”, diz a Bíblia de Genebra, “é bastante ampla e inclui, além do adultério, vários pecados de natureza sexual”. A Bíblia de Jerusalém entende que a palavra “parece designar todas as uniões irregulares enumeradas no capítulo 18 de Levítico”: relações incestuosas, relações de pessoas do mesmo sexo, relações com animais etc.
O processo de reeducação sexual ou de normalidade sexual não ficou apenas no bate-papo do concílio de Jerusalém. A assembléia redigiu um parecer e elegeu uma comissão de quatro homens notáveis (Paulo, Barnabé, Barsabás e Silas) para levar o documento aos cristãos gentios que viviam na cidade de Antioquia e nas regiões da Síria e da Cilícia (At 15.22-29).
Mais tarde, Paulo sentiu necessidade de abordar esta questão nas epístolas gerais e pastorais. Lá pelo ano 50 ou 51 do primeiro século, o apóstolo escreveu “à igreja dos tessalonicenses” a seguinte exortação: “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual [ou da libertinagem, ou da prostituição, ou da luxúria, como se lê em outras versões]” e “cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominado pela paixão de desejos desenfreados, como os pagãos, que desconhecem a Deus” (1 Ts 4.3-5, NVI).
Menos de 5 anos depois, por volta do ano 55, Paulo afirma categoricamente “à igreja de Deus que está em Corinto” que “nem imorais [ou libertinos, ou impudicos, ou devassos] nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos [ou efeminados, como está na EP, CNBB e TEB, ou depravados, como está na BJ] ou “ativos” [ou sodomitas, como está na ERA, CNBB e EP, ou pederastas, como está na TEB ou “pessoas de costumes infames”, como está na BJ], nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus” (1 Co 6.9,10, NVI). Pouco mais adiante, no mesmo capítulo, aconselha-os: “Fujam da imoralidade sexual” (6.18, NVI). A ordem é fugir do “pecado sexual”, ou da “devassidão”, ou da “prostituição”, ou da “fornicação”, como querem outras versões, e não se aproximar dela ou deixar que ela se aproxime deles, porque “o nosso corpo não existe para praticar a imoralidade, mas para servir ao Senhor” (6.13, NTLH). Além do mais, Paulo quer que os coríntios saibam que o corpo deles “é o santuário do Espírito Santo” (6.19). Porque a cultura de Corinto era acentuadamente libidinosa, é nesta epístola que Paulo mais fala sobre as distorções sexuais. Noutra exortação, por exemplo, ele tenta criar neles o temor do Senhor nessa área: “Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram — e num só dia morreram vinte e três mil” (10.8). O apóstolo se reporta à imoralidade sexual cometida ostensivamente pelos israelitas na travessia do deserto, quando as moabitas se ofereceram a eles (Nm 25).
Dois anos mais tarde, no ano 57, Paulo de Tarso escreve a mais longa de todas as Epístolas, endereçando-a “a todos os que de Roma são amados de Deus e chamados para serem santos”. Logo no primeiro capítulo, ele trata abertamente da questão da homossexualidade. Certamente não há outra passagem na Bíblia tão veemente sobre a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo quanto esta. Nela aparece pela primeira e única vez uma referência ao lesbianismo, às mulheres que trocam “suas relações sexuais por outras, contrárias à natureza” (Rm 1.26). Paulo não economiza palavras: o sexo entre mulher e mulher, entre homem e homem é chamado de impureza sexual (1.24), paixões vergonhosas (1.26), atos indecentes (1.27), degradação (1.24), perversão (1.27) e depravação (1.29). Na análise de Paulo, o ser humano cometeu três loucuras na história: trocou o Deus imortal pelo homem mortal (1.25), trocou a verdade em mentira (1.25) e trocou o parceiro sexual do outro sexo — como era “desde o princípio da criação” — por outro do mesmo sexo (1.26).
Numa quarta epístola, escrita no ano 60 ou 61 e dirigida “aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos”, Paulo é bastante explícito: “Façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria. É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência” (Cl 3.5). Outras versões usam as expressões sinônimas “matem os desejos”, ou “mortificai os vossos membros” ou “abafem os desejos malignos”. O mandamento de Paulo é de ordem prática: em vez de satisfazer a carne, isto é, as más tendências da natureza humana, os colossenses deveriam eliminar tais desejos. Naturalmente o apóstolo não estava pensando num golpe só e definitivo. Seria algo continuado — o “dia a dia” de que falou Jesus (Lc 9.23) — e progressivo.
Nas chamadas Epístolas Pastorais, Paulo é menos bravo e, em certo sentido, mais exigente. Salvo uma exceção, sua preocupação exclusiva nessas epístolas é com a pureza preventiva. Como pastor, Timóteo deveria ser um exemplo para os fiéis no que concerne ao sexo (1 Tm 4.12). Daí as recomendações: “[Trate] as moças, como a irmãs, com toda a pureza” (1 Tm 5.2, NVI), “Conserve-se puro” (1 Tm 5.22, NVI) e “Fuja dos desejos malignos da juventude” (2 Tm 2.22, NVI). A exceção é quando ele explica ao jovem pastor que a lei “não é feita para os justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os seqüestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina” (1 Tm 1.9,10, NVI). Mais uma vez, a Bíblia coloca o homossexualismo ao lado de crimes como homicídio, seqüestro e perjuro.
A lei maior que define a fé e o comportamento daquele que se declara cristão não é o que todo mundo faz, não é o que a literatura secular diz, não é o que a televisão mostra, não é o que a sabedoria deste mundo ensina, não é o que os falsos profetas dizem, não é o que a parada gay populariza, não é o que a pesquisa de opinião pública sugere, não é o que a consciência descomprometida permite. Ao se fazer cristão, o pecador se deixa orientar pelo conteúdo de um Livro, que ele entende ser a Palavra de Deus e merecedor de toda confiança. Para adotar uma conduta sexual solta, ele precisa jogar as Escrituras Sagradas no lixo. Porque, “ou a Bíblia me afasta do pecado ou o pecado me afasta da Bíblia”.
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Publicado originalmente na Revista Ultimato
Publicado originalmente na Revista Ultimato
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